Oficina de Ervas Aromáticas

Pois é, cá vou eu uma vez mais até Vila do Conde para, no CMIA, partilhar com todos os que decidirem participar, a minha paixão por estes maravilhosos seres da natureza: as plantas aromáticas.
O trabalho tem sido intenso na preparação de um Power Point: imagens, receitas, um pouco de história, referências culturais que estão ligadas às plantas, etc., etc.
Claro que o mais interessante vem depois, na caminhada pela natureza, à procura da Salva Bastarda, do Tormentelo, da Salsa de Cavalo e de outras que a nossa rica flora tem para nos oferecer.
Conto ansiosamente os dias que ainda falta passar para que chegue o dia, 18 de Abril, sábado, e possa ver, finalmente os rostos dos que passarão a ser a partir dessa hora meus amigos. Primeiro, um grupo de desconhecidos no meio do qual aparecerão, estou certo, alguns rostos já conhecidos de outras oficinas, de outras partilhas. Depois, a saudade de os ver partir após um dia onde as emoções associadas a este acto mágico de partilhar gostos, sensibilidades, experiências, projectos, sorrisos, saberes... fizeram o seu trabalho, cavando bem fundo na alma e lá pondo uma semente que perdurará pelos tempos vindouros.
A minha natureza introspectiva prega-me sempre uma partida, e cogitações de índole existencialista acabam sempre por me invadir o espírito, num processo amargo-doce onde o espanto que o acto de viver me causa se entrelaça dialecticamente com especulações onde a ideia do efémero, do provisório e do singular se combinam e se opõem interminavelmente.
Enfim, coisas da vida... e da morte. Do princípio e do fim. Mas, neste momento, é o que medeia entre estes dois extremos que conta. E o que conta é a vida que se partilha, a dádiva que flui de pessoa para pessoa, a partilha interminável de afectos, de emoções, de recordações.
Esta oficina ainda não aconteceu e eu já tenho... saudades dela.
Por falar nisto, vou sentir saudades da Mariana Cruz que, estando presente nas oficinas anteriores realizadas em Dezembro, cujo tema foram os cogumelos, já não faz parte da equipa do CMIA de Vila do Conde. Vai fazer-me falta ver o seu rosto bonito e inteligente, a sua atenção dedicada rodeando-me num apoio permanente. Mas tudo correrá bem, o resto da equipa continua lá a dar o seu melhor, que é muito.
Então, até breve.
Carlos Venade


Um exemplo de paisagem da zona, aqui na localidade da Várzea. Não sei se algum dos trilhos passa neste local, mas toda a região é de uma beleza imensa.

Caminhadas em Março

Para os eventuais interessados informo que tenho duas caminhadas agendadas para este mês de Março, mês do início da Primavera e, portanto, altura em que apetece ainda mais andar pela natureza.
O local dos trilhos é maravilhoso, na zona da Peneda/Castro Laboreiro.
Haverá dois guias, interpretação botânica, micológica e ornitológica e, claro, conversa até mais não. Ah, e também apoio fotográfico para os menos familiarizados com a fotografia da natureza.

Proponho-vos dois Trilhos:
Trilho das Pontes - 14 de Março 2009
Saída: 10 horas
Distância: 10 km
Tempo: 5 horas
Preço por pessoa: 15 euros (inclui seguro de acidentes pessoais)


Trilho Pertinho do Céu - 15 de Março 2009
Saída: 10 horas
Distância: 8,5 km
Tempo: 4 horas
Preço por pessoa: 15 euros (inclui seguro de acidentes pessoais).

Trilho Nocturno
Trata-se de um trilho de pequena extensão, com a duração de 3 horas e 5km de extensão.
O objectivo é caminhar um pouco pela natureza num local sem poluição luminosa, ouvindo os sons da noite e observando o céu. Um guia, utilizando um apontador laser, identificará as constelações, falará da mitologia associada a algumas delas, e abordará noções básicas de astronomia, cosmologia e astrofísica.
A ideia fundamental subjacente é chamar a atenção para o lado mais distante e mais puro da natureza, sensibilizar para a importância da preservação do céu nocturno, fruir a natureza em toda a sua dimensão.
Data 23/02/2009
Hora: 21 horas
Local: Sr.ª de Numão - Castro Laboreiro
Contacto: 919427608
Serviço de Guia Diplomado acompanhado de Técnico de Astronomia, Seguro de Acidentes Pessoais e Responsabilidade Civil.
Aconselhamos o uso de agasalhos, lanterna e botas confortáveis.
Preço por pessoa: 15 euros

Com os alvores de um novo ano insinuando-se no calendário, a temporada micológica vai lentamente adormecendo. Cogumelos há todo o ano, eu sei, mas não com a mesma abundância e diversidade de espécies que caracteriza um outono típico.
Os cogumelos são seres que da diferença fazem o seu fascínio, e este expressa-se em formas de subtil capricho, em cores surpreendentes, em aromas que, mesmo quando difícies, cativam.
Em mais de vinte anos dedicados à micologia, primeiro solitariamente de máquina fotográfica ao tiracolo e cesto na mão e, mais tarde, partilhando com outras pessoas a paixão por estes seres maravilhosos, nunca em circunstância alguma senti esmorecer o encantamento de ver brotar por entre a erva de um prado ou sob a folhagem caída dos carvalhos aquela forma ou aquela cor que indiciavam um Boletus edulis, um Coprinus comatus, um Calocera viscosa...
É maravilhoso, também, ver nos olhos dos que me dão a honra de participar nas minhas "Oficinas" o mesmo brilho, o mesmo deslumbramento, ouvir sair das suas bocas as expressões de espanto perante uma forma ou uma cor inimagináveis segundos antes.
Foi o que aconteceu durante o mês de Dezembro quando tive a honra de ser convidado pelas coordenadoras do CMIA de Vila do Conde, Mariana Cruz e Luísa Rodrigues, para a realização de uma Oficina de Identificação de Cogumelos e Ervas Aromáticas. Uma, não: quatro, pois o número de incrições a isso obrigou. Doce obrigação, permitam-me que vos diga.
Foram quatro dias - 6, 13, 19 e 20 de Dezembro - que constituiram para mim uma experiência inolvidável. Primeiro, pelas pessoas que no CMIA - as duas já citadas e a que se juntou para uma colaboração formidável Amélia Guimarães, do Gabinete Florestal do Município de Vila do Conde - souberam criar com competência, empenhamento e calor humano o ambiente propício para que um grupo de desconhecidos que se juntou às dez da manhã se despedissem horas mais tarde como amigos. Durante as horas que passamos juntos, criaram-se laços que perdurarão no calendário que o tempo vai tecendo. Há rostos que ficaram gravados na minha memória como pegadas na terra húmida dos bosques dormentes na neblina de Dezembro.
Até breve, amigos, espero poder voltar a vê-los novamente com o rosto emoldurado pela árvores dos bosques, ouvir outra vez o sussuro dos vossos passos amortecidos pela folhagem multicolor que atapeta o solo da Terra-Mãe, que num gesto de infinita e espontânea prodigalidade nos vai oferecendo os seus frutos. Assim saibamos nós merecê-los.
Continuaremos ligados. Tal como escreveu Fernando Pessoa, somos "contas-entes, ligados por um fio-memória". Compete-nos a nós manter a memória viva, manter o fio ligado.
Este é um dos meus sonhos profundos.
Abraços.
Carlos Venade